segunda-feira, março 03, 2008

(Encontro entre Parêntesis)


Ele: E aí, tudo bem? Você parece ótima!

(Como tá diferente, deve ter arrumado outro...!)

Ela: Tudo ma-ra-vi-lho-so! Se melhorar piora. E você?

(Pretensioso! Certamente esperava me encontrar um bagaço, com seu nome escrito na testa.)

Ele: Eu? Vou bem! Vou muito bem, sim! Os negócios estão dando certo. Tenho viajado bastante e a analista me liberou. A vida é bela!

(Nem morto digo que ando tomando Lexotan e que estou falido).

Ela: E a Ana? Vocês estão juntos? Afinal, ela foi o pivô da nossa separação.

(diz que não, diz que não... ave-maria, cheia de graça, rogai por nós... diz que não! )

Ele: Você se precipitou. Eu já falei que a Ana foi um mero erro de cálculo perdido numa noite etílica. Um caso sem importância. Um erro menor. Claro que não fiquei com ela. Estou dando um tempo p’ra mim. E está bom assim.

(Burra! Burra! Burra! Tinha que investigar meus crimes e estragar tudo? Veja como estou agora?... Não, não veja!! Te perdôo por te trair!)

Ela: Ah, pena... Depois de aplacados os ânimos, cheguei até a achar que a Ana era perfeita p'ra ti. Formavam um casal bonito. Achei que ela podia fazer muito bem p'ra tua cabeça.

(Me trair com aquela... como pôde? Escassos neurônios escondidos embaixo dos cabelos oxigenados, medíocre e ainda por cima metida a dona da verdade. Chega a ser insultuoso. Eu não merecia... Ufa! Eles não ficaram juntos! Sangue de Cristo tem poder!)

Ele: Mas não ficamos. E você? Namorando?

(Diz que não, diz que não... não vou agüentar ouvir, não vou !)

Ela: (Devo silenciar por alguns segundos para gerar suspense e dúvida.)

Ele: Ei ! Voou? Eu perguntei se estava namorando.

(Diga logo de uma vez, vadia! E acabe com minha tortura de macho ferido! )

Ela: Bem... hmmm.. Estou saindo com o Dudu, sabe? Ele tá a fim de me namorar. Eu não cortei de cara porque ele falou isso e depois cantou baixinho no meu ouvido: “Like the flowers need the rain, you know I need you”...Você sabe, né? Essa música do America sempre mexeu comigo. Aí fiquei confusa.

(Veja como gostam de mim, seu imbecil ! Veja como sou "gostosa", poderosa, vitaminada! Você não quis mas tem quem queira!)

Ele: Sem rodeios, gata ! Eu perguntei se você está namorando. Perguntinha simples. Sim ou não?

(Perguntinha simples o *&%&$!!! Piranha, safada! Meu cadáver nem esfriou. Oh, estou morto, como estou morto! Logo com o Dudu! Aposto que deu p'ra ele!)

Ela: Ah, sim.. então... como eu ia dizendo, a questão é essa: ficamos em stand by . Nada decidido ainda. Amanhã a gente se resolve. Estou vivendo o presente!

(Pobre Dudu, grande bro... Virou noites aturando meus porres, no pior desta minha lama, me ouvindo pronunciar teu nome pelo menos umas trocentas vezes por hora... E era eu que cantava alto, pagando o maior mico: “Like the flowers need the rain you know I need HIM”!!)

Ele: Mas tinha que ser logo o Dudu, meu amigo?

(Opa!! Dei bandeira! Conserto na próxima frase.)

Ela: Por que? Isso importa?

(Cínico! Deve estar pensando na sua honra de macho bem sucedido, que vão dizer que foi corno!)

Ele: Não! Claro que não! Na verdade, é melhor que fique com alguém que já conheça. E o Dudu é um cara legal. Só pega um pouco o fato de ele gostar de pagode, né? Mas isso é um detalhe irrelevante. Imagine... ! E aquele jeito dele meio gay é só fachada. No fundo é uma grande alma, mesmo gostando de ler Paulo Coelho. Grande Dudu!

(Va-ga-bun-da! Isso só pode ser p’ra me provocar! Dudu, amigo urso! Detonei tua imagem, hihihihi.)

Ela: O Dudu é um charme! É... vamos ver ! Deixa rolar! Importa é que eu estou bem ! Virei a página! Le passé est mort !

(Como é insensível, my God ... Imagine se vou passar recibo de que ainda sou louca, arriada dos quatro pneus, por um egocêntrico que nunca se importou comigo e me fez de palhaça? É ruim, hein?)

Ele: Passou-me agora pela cabeça: “E se... e se... tivéssemos continuado, como seria?”

(Le passé est mort, né ? – Assassina! Ainda mata em francês, com a mesma pronúncia horrível. Não acredito, vou jogar essa para testá-la... )

Ela: P’ra que pensar em como seria? O fato é que não será! Sem chance! Passamos, você sabe...

(Estaríamos na locadora escolhendo filme, ou tomando sorvete Häagen Danz, ou nos beijando na fila do banco ou transando, ou transando, ou transando ou... transando. Disfarcei bem? Sim, porque nunca passou nem nunca passará!)

Ele: É, né? Passamos... É a vida... O amor quebrou. Mas eu tenho muito carinho por você.

(Eu te amo, porra!)

Ela: É.. o amor morreu. Mas eu também te quero um bem enooorme!

(Droga... Eu te amo!)

Ele: Se precisar de mim para alguma coisa, sabe que pode contar.

(Não sabe nada, não sabe nada...)

Ela: Hum hum. Obrigada. Mas fique tranqüilo que não vou precisar de nada não. Você sabe que estou bem!

(Não sabe nada, não sabe nada...)

Ele: Melhor eu ir andando agora. Onde está seu carro?

(Desapareça logo da minha frente, ó mulher implacável, p’ra não assistir ao dantesco espetáculo do meu desmoronamento!)

Ela: Estou a pé!

(Ufa... terminou... Agüentei bem, né? Agora é só apressar o passo sem olhar p’ra trás.)

Sem olhar p’ra trás...

Ele: Disse alguma coisa?

(Vai mudar de idéia?)

Ela: Nada! Só pensando alto !

(Disse sim, mas não fui ouvida: disse que não hesitaria em voltar, ao menor aceno seu de que me queria. Não acenou. Não vai acenar. Não me ama mais, nunca me amou... dane-se!)

Ele: Ok, então.. Até um dia! Se cuide !

(Resumo da ópera: não me ama mais... dane-se!)

Ela: Até...!

(...)

Na bolsa continuou intacto o CD do Pink Floyd, que ela deveria lhe devolver, motivo único deste encontro.